terça-feira, 27 de dezembro de 2011

MEMÓRIA


Séculos atrás, a capacidade de memorizar quantidades prodigiosas de informação era considerada uma arte tocada pela magia. Os antigos gregos e romanos acreditavam que o apelo ao conhecimento do passado era um meio de transcender o ambiente imediato da pessoa, de atingir uma consciência superior, uma realidade mais intensa. A memorização de grandes obras escritas era vista como a chave da sabedoria, bem como do conhecimento, e como uma fonte renovável de inspiração criativa. Com efeito, os gregos fizeram da deusa da memória, MNEMOSINE, a mãe das nove Musas.

Os poderes mágicos da memória ainda hoje se esquivam da maior parte das pessoas, inclusive de pesquisadores que tentam encontrar e mapear a fonte da memória humana e entender suas capacidades. Um dos primeiros cientistas a embarcar nessa busca foi o neuropsicólogo americano Karl Lashley. A partir dos anos 20, Lashley conduziu uma série de experiências com ratos, procurando determinar o ponto exato de armazenamento da memória, no elaborado entrelaçamento dos neurônios. Em 1950, publicou um artigo no qual concluía, que a memória e aprendizagem não estão concentradas em uma só área do cérebro, mas espalhadas por todo ele.



                             

( Dois italianos jogam xadrez nesta xilogravura de 1493. Considerado como originário da Índia do século VII, por muito tempo o xadrez foi exaltado como um exercício para aguçar a mente )

Ao mesmo tempo que Lashley admitia que a memória não podia ser localizada no cérebro, outro pesquisador, o neurocirurgião canadense Wilder Penfield, testemunhou algumas ocorrências estranhas que pareciam indicar que podia. Para encontrar as pequenas áreas cicatrizadas do cérebro em que têm origem os ataques epilépticos, Penfield concebera um procedimento pelo qual podia estimular, sem dor, áreas específicas da superfície do córtex com uma pequena sonda elétrica. Como os pacientes ficavam conscientes durante todo o procedimento, podiam descrever as sensações que experimentavam.

De modo totalmente inesperado, Penfield descobriu que sua sonda podia estimular lembranças extremamente detalhadas, e muitas vezes de forte conteúdo emocional, quando trocava áreas do córtex temporal, a porção do córtex cerebral que está diretamente ligada ao sistema límbico. Os pacientes pareciam reviver nitidamente as visões, sons, sabores e emoções de experiências há muito esquecidas. Nossa! exclamou um menino de 12 anos de idade. Lá estão eles, o meu irmão está lá. Ele está apontando sua espingarda de chumbo pra mim. Uma jovem observou de sua experiência com a sonda: Tive a mesma lembrança muito, muito conhecida, em um escritório em algum lugar. Eu estava lá e alguém estava me chamando, um homem apoiado na escrivaninha com um lápis na mão. Outros pacientes ouviram músicas especificas, que podiam cantar nota a nota. Um homem foi transportado de volta à fazenda sul-africana em que vivera.

Com base em sua pesquisa, Penfield concluiu que o cérebro registra cada sensação, cada emoção e cada experiência da vida, mas oferece apenas um acesso limitado a esse imenso estoque de informações. Esquecer, portanto, não é a perda de lembranças, mas a incapacidade de localizá-las. Concluiu também que o córtex temporal continha pelo menos alguns dos neurônios ligados à memória. Os cientistas hoje acreditam, porém, que embora Penfield estivesse localizando sua sonda na superfície do córtex cerebral, na verdade era o sistema límbico subjacente que ele estava estimulando. Pesquisas mais recentes mostraram que várias estruturas dessa antiga parte do cérebro têm um papel crucial na formação da memória.


Uma dessas estruturas é o Tálamo, uma área do tamanho de uma ervilha no centro do cérebro que serve como uma estação de retransmissão para quase toda a informação que chega a ele.

Os danos às células nervosas do Tálamo foram diretamente ligados à SÍNDROME DE KORSAKOFF, uma disfunção cerebral que recebeu o nome do médico russo que a descreveu pela primeira vez em 1887. As pessoas com essas disfunções, que costuma ser causada pelo alcoolismo crônico, não têm memórias recentes, e experimentam às vezes a chamada amnésia retrógrada, na qual longos trechos de memória podem ser obliterados. Tipicamente, as vítimas da síndrome de Korsakoff conseguem lembrar-se de ocorrências do passado distante, mas as memórias novas não conseguem fixar-se, nem qualquer nova informação pode ser aprendida.

Em O Homem que confundiu sua Mulher com um Chapéu, Oliver Sacks escreveu acerca de um homem de 45 anos de idade que conheceu em 1975, Jimmie, um afável ex-oficial da Marinha do estado de Connecticut, perdeu trinta anos de memórias devido à síndrome de Korsakoff. Para Jimmie era sempre 1945, e ele tinha 19 anos. Qualquer coisa nova que lhe fosse dita ou mostrada era esquecida em poucos segundos.

Em outro caso trágico, um homem conhecido na literatura médica apenas pelas iniciais H.M. levou os cientistas a implicarem outra estrutura do sistema límbico o " HIPOCAMPO " na formação da memória. Uma das partes mais antigas do cérebro, o hipocampo é um pedaço curvo de matéria cinzenta com cerca de 3 centímetros de comprimento, situado dentro do córtex temporal. Em 1953, H.M. foi submetido a uma forma de cirurgia cerebral concebida especialmente para ele, a fim de aliviar os graves ataques epilépticos que tinha quase todos os dias e estavam ameaçando sua vida. Os cirurgiões pretendiam remover apenas os lobos temporais de H.M., mas também tiraram inadvertidamente parte de seu hipocampo.

Logo depois da operação, os cirurgiões perceberam que alguma coisa estava terrivelmente errada. Embora os ataques houvessem parado, H.M. era incapaz de lembrar-se dos nomes e até dos rostos das enfermeiras que cuidavam dele. Se saísse de seu quarto para caminhar pelo corredor, não conseguia lembrar-se do caminho de volta. Quando lhe davam uma revista, ele lia o mesmo artigo diversas vezes, sem perceber que já o havia lido. Sua memória continuava boa para o que havia acontecido antes da operação, mas ele não conseguia aprender nada de novo. Tal como os pacientes com a síndrome de Korsakoff, H.M. perdera a capacidade de lembrar-se. Era um homem preso para sempre ao passado longínquo e ao presente instantâneo.

Enquanto H.M. tinha consciência, mas não tinha memória, as pessoas com SÍNDROME DE IDIOT SAVANT têm a memória mas não a consciência.

Os idiots savants são conhecidos pela excepcional memória eidética em sua ilha específica de talento, a capacidade de descrever as condições climáticas de qualquer dia de suas vidas passadas, por exemplo. A memória dos idiots savants é automática e habitual; ela não demostra absolutamente nenhum sinal de auto-reflexão, nenhuma percepção cognitiva e pouco envolvimento emocional.

Apesar disto, os idiots savants demonstram ter dons extraordinários. Alonzo Clemens, que sofreu danos no cérebro devido a uma queda aos 3 anos, tem um QI estimado em 40. Mal consegue contar até dez e seu vocabulário é limitado a poucas centenas de palavras, semelhante ao de uma criança de 2 anos. No entanto, quando lhe dão um pouco de argila, ele é capaz de moldar qualquer animal magnificamente detalhado, com cada músculo e tendão representado minuciosamente. Suas obras são colecionadas por conhecedores de arte de todo o mundo.

Em outro caso, um menino autista de 16 anos chamado Steven Wilcher maravilhou toda sua Inglaterra nativa com a capacidade de desenhar prédios, pontes, carros qualquer coisa só de memória, com perspectiva perfeitas e detalhes exatos, em poucos minutos. Oliver Sacks, que observou o menino, especula que o autismo de Wilcher faz com que ele seja capaz de armazenar milhares de padrões complexos na cabeça, simultaneamente.

Outro idiot savants, Leslie Lemke, tem um problema triplo: cegueira, retardamento mental e paralisia cerebral. No entanto, ele arrebatou platéias de todo o mundo com sua notável capacidade de tocar piano. É capaz de tocar uma obra musical impecavelmente após ouvi-lá uma única vez, seja uma sonata de Ludwig van Beethoven, ou um rock. Após ouvir a gravação em fita de 45 minutos de uma ópera uma só vez, ele é capaz de transpor a música para o piano e, enquanto toca, cantar o libreto da ópera, na língua estrangeira em que a ouviu.

Os gênios artísticos e musicais são comuns entre os idiots savants. Muitos deles também demostraram indícios de percepção extra-sensorial. Em 1978, um psicólogo de San Diego chamado Bernard Rimland publicou um estudo feito com os históricos de aproximadamente 5.400 crianças com síndrome de idiot savants de todo mundo. Determinou que 561 delas, pouco mais de 10%, mostravam sinais de uma percepção incomum. Em geral, os pais dessas crianças eram os primeiros a notar sua inexplicavel clarividência. Ele parece ser bastante paranormal, relatou o pai de um menino idiot savant que costumava voltar de ônibus da escola. Decidimos de improviso ir buscar Georg na escola. Ele dizia ao professor que estávamos vindo e abria a porta para nós quando chegávamos. Então, ele tem muitas capacidades especiais, mas não é capaz de escrever seu nome ou uma sentença.

Os pais de outro idiot savant relataram que a criança tinha uma extraordinária capacidade de ouvir conversas que estava além do alcance da audição e de captar pensamentos que não são falados.

Ainda não está claro de que maneira, exatamente, o cérebro do idiot savant difere do cérebro normal, nem o que permite que faça o que faz. Mas o psiquiatra Darold Treffert, um dos principais especialistas na síndrome do idiot savant, acha que ela é causada por danos ao hemisfério esquerdo do cérebro, em geral ocorridos antes do nascimento. Para compensar tais danos, o hemisfério direito fica superdesenvolvido, crescendo mais do que o normal e assumindo o domínio sobre todo o cérebro. É possível que esse desequilíbrio, em casos extremos, resulte em um idiot savant, um indivíduo que tem a capacidade de seu cérebro direito altamente desenvolvida, mas cujo cérebro esquerdo tem capacidades mínimas.

Treffert descreve que a importância da síndrome de idiot savant está em nossa incapacidade de explicá-la, é um claro lembrete de nossa ignorância sobre nós mesmos, em especial sobre como funciona nosso cérebro. Nenhum modelo das funções cerebrais, particularmente o da memória, estará completo enquanto não pudermos incluir nele uma explicação para essa notável condição.

Muitos outros cientistas concordam com ele. Eles acreditam que é através do estudo de disfunções raras e enigmáticas como essa que o misterioso relacionamento entre a massa de um quilo e meio de matéria cinzenta e a mente aparantemente amorfa será algum dia esclarecido.!

sábado, 10 de dezembro de 2011

OS SENTIDOS


Os sentidos recolhem informações da realidade externa e transmitem-nas ao cérebro. Fornecem à mente a matéria do pensamento e toda a percepção depende do que eles trazem.

A maioria das pessoas possui olfato, tato, paladar, audição e visão, mas aqueles que carecem de um ou mais desses sentidos compensam a falta aguçando os restantes, ou até desenvolvendo novos. Os cegos, por exemplo, muitas vezes se deslocam usando uma espécie de sistema de sonar parecido com os de habitantes das trevas como morcegos, serpentes de cavernas e baleias. Distinguem objetos diferentes pela leitura de seus ecos.

Os cientistas aprenderam que a consciência recebe apenas uma fração dos dados colhidos pelos sentidos, devido a um sistema de filtragem que protege a mente de uma sobrecarga sensorial. No entanto, esse mecanismo também limita a percepção da realidade.

As pessoas que sofrem uma disfunção na pituitária chamada doença de Addison, por exemplo, tem o paladar 150 vezes mais sensível do que as pessoas saudáveis.

Os pesquisadores descobriram que muitos desses aparentes milagreiros sofreram danos cerebrais no início da vida. O traumatismo pode ter perturbado o sistema de filtragem sensorial da mente, permitindo que uma legião de experiências paranormais chegassem à consciência.



OLFATO
O cérebro levou milhões de anos para evoluir a partir de hastes olfativas; portanto, as primeiras criaturas cheiravam antes de pensar. Hoje em dia o sentido do olfato proporciona um poder sutil, reforçando a sobrevivência da espécie ao facilitar as reações sexuais desencadeadas por certos odores. Por exemplo, as meninas que vivem entre homens e sentem o cheiro deles chegam à puberdade antes das que não o fazem. Do mesmo modo, os pelos faciais de um homem sexualmente envolvido com uma mulher crescem com mais rapidez, pois o cheiro da mulher estimula a produção de testosterona.



TATO
A experiência do tato é vital para o desenvolvimento. Em estudo sobre prematuros em incubadoras de hospital, um grupo experimental foi estimulado com massagens, enquanto outro grupo não era. Os bebes massageados ganharam peso com uma rapidez 47% maior do que os que não foram tocados. Além disso, seus sistemas nervosos amadureceram mais rápido, e tiveram alta do hospital seis dias antes. Experiências com bebes macacos mostram que os que experimentam alguma privação de tato, embora ligeira, sofrem danos cerebrais reais.



PALADAR
No início de No Caminho de Swann, obra e grande parte autobiográfica do romantista francês Marcel Proust, a personagem principal mistura na boca um gole de chá e pedaços do biscoito chamado Madeleine. Tão evocativo é o sentido do paladar que esse simples ato lhe traz à lembrança toda uma época de sua infância. Dez mil papilas espalhadas por dentro da boca dão aos seres humanos a capacidade de saborear substância doces, salgadas, ácidas e amargas. Todos os demais sabores são, na verdade, odores, ou seja, uma passagem de ar que liga a boca e o nariz une os sentidos do olfato e do paladar.



AUDIÇÃO
A capacidade de ouvir inspira as pessoas uma variedade de emoções, que vão da fúria induzida pelos tambores pulsantes de um ritual de macumba à calma reflexiva evocada pela repetição do mantra indiano OM. Desde o momento da concepção, o feto ouve a tranquilizadora regularidade das batidas do coração da mãe. Os médicos usam música para estimular pacientes em coma e para tirar de si mesmas as crianças autistas. E quando os seres humanos ouvem suas próprias vozes elevando-se em canções, os níveis de endorfina, substâncias químicas de bem-estar no cérebro, aumentam.



VISÃO
Em sua busca incansável de beleza, o olho guiou grande parte do desenvolvimento cultural desde que os homens começaram a caminhar sobre a terra. Para satisfazer os rigorosos padrões desse órgão, há muito as pessoas procuram tornar o mundo e si mesmas, mais belo de se olhar. As mulheres da Itália renascentistas e da Inglaterra vitoriana, por exemplo, deixavam cair gotas do suco da venenosa planta da beladona nos olhos para dilatar as pupilas. E alguns homens e mulheres suportam infindáveis exercícios de ginástica e até se submetem a cirurgias na busca de um corpo que agrade ao olhar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DANOS CEREBRAIS NÃO-DEBILITANTES


Os danos no cérebro nem sempre têm um efeito debilitante. Ocasionalmente, ocorre uma mudança fisiológica que reforça os sentidos ou desencadeia um potencial sensorial oculto do qual a maioria das pessoas não costuma ter consciência. Muitos cientistas acreditam que diversos fenômenos freqüentemente atribuídos a um sexto sentido, tais como a Telepatia ou a Clarividência, são na verdade o resultado de um ou mais dos cinco sentidos comuns, ficando atrapalhados e funcionando de maneira supranormal.


Sinestesia

Uma variação da sinestesia também conhecida como visão sem olhos. Embora esse estranho fenômeno tenha sido relatado já nos anos 20 pelo médico e romancista francês Jules Romains, os cientistas só começaram a levá-lo a sério em 1962. Quando uma jovem russa chamada Rosa Kuleshova espantou os membros do Instituto de Biofísica de Moscou da Academia Soviética com sua aparente capacidade de ler palavras impressas e distinguir cores com os dedos. Kuleshova contou aos cientistas que essa capacidade se tinha desenvolvido aos poucos, começando com os dedos médio e anular da mão direita e depois espalhando-se para todos os demais, chegando com o tempo até o cotovelo e outras partes do corpo

Um professor soviético chamado Abram Novomeysky relatou que, das pessoas submetidas a testes, uma em cada seis conseguia em meia hora aprender a distinguir entre duas cores pelo tato. Tal como Kuleshova, alguns acabaram aprendendo a identificar todas as cores primárias assim. A maioria das pessoas testadas concordava sobre a sensação de cada uma das diferentes cores. Diziam que o amarelo, por exemplo, era escorregadio e o laranja duro e áspero. Algumas delas afinaram suas habilidades a tal ponto que já não precisavam tocar as cores. Explicaram que, como cada cor irradiava sua textura particular a uma altura diferente, era possível identificar a cor apenas passando a mão sobre ela. Aparentemente, o vermelho irradiava a maior altura, e o azul claro a mais baixa. Baseado em suas pesquisas, Novomeysky passou a achar que a visão epidérmica resulta de uma interação entre os campos eletromagnéticos que emanam tanto da ponta dos dedos do leitores quanto das cores que estão sendo lidas.



Memória Eidética ou Fotográfica

A capacidade de evocar imagens visuais com extraordinária precisão. Muitas crianças possuem esse tipo de memória, o que é evidenciado por sua capacidade de descrever com minucias os desenhos de seus livros de histórias favoritos.

Por razões ainda desconhecidas, esse poder raramente se mantém após a puberdade. Alguns cientistas acham que, à medida que amadurece, o cérebro torna-se mais seletivo: em vez de lembrar-se de um desenho inteiro de um livro, o cérebro adulto guarda apenas as imagens mais relevantes e joga o resto fora.
É uma rara disfunção cerebral descoberta há mais de dois séculos, os sentidos são unidos de um modo misterioso que permite às pessoas ver sons, identificar sabores pelo tato e sentir o sabor das cores ou das palavras. Para um sinesteta, o som de um telefone tocando pode transmitir a imagem de blocos em forma de losango, ou a palavra telefone pode ter gosto de torta de maçãs. A forma mais comum de sinestesia é conhecida como audition colorée, ou audição colorida. " Uma das coisas que eu adoro no meu marido é a cor de sua voz ou de sua risada." É de um maravilhoso marrom dourado, com um sabor de torrada crocante com manteiga. Disse uma sinesteta.

Intrigado com esses comentários, o neurologista Richard Cytowic, de Washington, examinou os cérebros de pessoas sinestésicas que experimentavam sons coloridos e descobriu um padrão incomum de fluxo sanguíneo. Normalmente, o fluxo do sangue aumenta no córtex cerebral a estimulação sensorial. Contudo, Cytowic descobriu que, quando alguém está vendo sons, o fluxo sanguíneo diminui no córtex cerebral e aumenta no sistema límbico, mais profundo e primitivo. O processamento superior das informações no cérebro desliga-se durante a audição colorida. Um modo mais antigo e fundamental de ver o mundo, mais mamífero do que relacionado à linguagem assume o controle.



Visão Epidérmica

DANOS CEREBRAIS


Síndrome de esquecimento

Um dano no hemisfério direito, se trata de uma disfunção neurológica que faz com que as pessoas se comportem como se o lado esquerdo de sua percepção visual e até mesmo todo o lado esquerdo do corpo não existisse mais.

Um homem com essa disfunção pode escanhoar só o lado direito do rosto, ou uma mulher pode passar batom só na metade direita dos lábios. Quando são solicitadas copiar a imagem de uma casa ou de um relógio, as pessoas com a síndrome do esquecimento desenham apenas o lado do objeto correspondente à mão direita e acham que não está faltando nada. Algumas vezes, esses pacientes sofrem de uma perda total de consciência de seus braços ou pernas esquerdas, e em casos extremos nem mesmo reconhecem que os membros lhes pertencem.



Agnosia

Um dano que afeta especificamente os sentidos a capacidade de ver, ouvir, sentir o tato ou o olfato. Em uma condição conhecida como agnosia, que significa " ausência de reconhecimento ", a pessoa consegue identificar as propriedades de um objeto, mas não o próprio objeto. Em geral, o problema envolve apenas um sentido, dependendo da área do cérebro que foi afetada. A agnosia visual, ou cegueira mental, pode ser particularmente incapacitante. A mente deixa de apreender o conjunto de uma cena ou objeto, percebendo apenas os detalhes. Ao olhar para uma foto, por exemplo, o paciente com agnosia visual pode ser capaz de reconhecer um automóvel, ou um prédio, ou uma pessoa caminhando, mas não será capaz de juntar os elementos para reconhecer que se trata da foto de uma rua. Para identificar o que não conseguem reconhecer apenas com a visão, os pacientes recorrem aos outros sentidos. Uma rosa foi mostrada a um homem com um caso grave de agnosia visual e ele não conseguiu identifica-lá. Ao permitirem-lhe tocá-lá, descreveu-a abstratamente como " uma forma vermelha convoluta com um apêndice linear verde". Só depois de cheirá-la é que ele conseguiu adivinhar sua verdadeira identidade.




Prosopagnosia

Corresponde à incapacidade específica de reconhecer rostos, até o próprio. Esta forma de agnosia parece ter origem em danos no lado direito do lobo occipital visual do cérebro situado na parte posterior do córtex cerebral. Em geral, como a área responsável pelo reconhecimento da voz está localizada no lado oposto do cérebro, alguém com prosopagnosia consegue reconhecer os rostos dos amigos e parentes assim que eles começam a falar. Em alguns casos, os pacientes perdem não só a capacidade de reconhecer rostos como também a própria noção de " rosto ".



Propriocepção

Em casos raros e trágicos de danos neurológicos, as pessoas perdem uma forma de sensação que os cientistas chamaram de propriocepção, a percepção do corpo físico. A propriocepção, termo originado da palavra latina para " percepção de si mesmo ", é o sentido oculto que permite à mente ter consciência da localização e dos movimentos dos músculos e membros do corpo. Esse sentido funciona com grande precisão e com pouco esforço consciente.

Para alguém que perdeu esse sentido, bater palmas requer concentração e esforço extremos. Sem o sentido de onde o corpo está no espaço, juntar as duas mãos torna-se uma tarefa quase impossível. A pessoa não fica paralítica; todos os músculos continuam sendo capazes de movimento; e sim descorporificada. Os pacientes sem propriocepção sentem-se como se houvessem " perdido " seus braços e pernas. ´Acho que estão em um lugar e descubro que estão em outro ´, observou uma mulher que desenvolveu a condição aos 27 anos de idade. " É como se o corpo estivesse cego." Com o tempo, a mulher acabou aprendendo a movimentar-se de novo, compensando com a visão a perda de propriocepção. Tudo tinha que ser feito pela visão. Se ela perdesse a concentração por um segundo apenas, caia no chão.

SECCIONAMENTO DO CORPO CALOSO

( ajudadas por assistentes, duas mulheres epilépticas chegam a um lugar de curas nesta gravura de 1642. Sobre uma certa ponte, os homens forçam as mulheres a dançarem ao som de gaitas de fole, acreditando que isso curaria seus ataques.)

Os conhecimentos da independência dos dois hemisférios cerebrais avançaram após o desenvolvimento, nos anos 40, de um procedimento cirúrgico radical para a epilepsia grave e incurável. Tratava-se do seccionamento do corpo caloso, o feixe grosso em forma de lápis, com cerca de 50 milhões de fibras nervosas, que liga os hemisférios esquerdo e direito do cérebro e possibilita a transferência de informação de um para o outro. Antes do desenvolvimento desse processo cirúrgico, os pacientes epilépticos com ataques incuráveis que não reagiam à medicação morriam em virtude dos danos causados ao cérebro quando o ataque passava de um hemisfério a outro. Os cirurgiões descobriram que, cortando o corpo caloso, podiam restringir os ataques a um único hemisfério, limitando assim os danos às celulas cerebrais.

Esta cirurgia não só foi bem sucedida no tratamento dessa forma de epilepsia como também, pareceu não produzir qualquer efeito visível na personalidade, no temperamento ou nas capacidades intelectuais. Um desses chamados de pacientes de cérebros divididos, um menino de 12 anos, ao acordar da cirurgia foi capaz de repetir sem tropeços um trava-línguas como, por exemplo, três tigres trituram trigo. Outro paciente, um veterano da Segunda Guerra Mundial cujos ataques haviam começado quando estilhaços de um bomba lhe perfuraram o cérebro, depois da operação afirmou estar sentindo-se melhor do que nunca .

Contudo, mudanças neurológicas sutis haviam ocorrido, que se tornaram plenamente aparentes só cerca de vinte anos depois, quando os pacientes de cérebros divido receberam uma bateria de testes de avaliação mais extensa. Os testes especialmente concebidos foram conduzidos no Instituto de Tecnologia da Califórnia sob a orientação do psicólogo Roger Sperry, que mais tarde ganhou um premio nobel de fisiologia e medicina por suas pesquisas com cérebros divididos. Os procedimentos revelaram surpreendentes indícios de que a operação isolara as funções diferentes dos dois hemisférios do cérebro.

Sperry e um de seus estudantes, Michael Gazzaniga, começaram os testes com um homem de 48 anos apelidado de W.J., que fora submetido a uma operação de cérebro dividido para curar sua epilepsia. Descobriram que quando uma instrução escrita simples, como mexa a mão, era projetada no campo visual esquerdo de W.J, que só transmite para o lado direito do cérebro, ele não reagia. Embora seu cérebro direito houvesse recebido a mensagem, não conseguia entender o significado e, portanto, ele não podia instruir a mão para mexer. Em outra experiência, deram a W.J, um conjunto comum de blocos vermelhos e brancos para que os arranjasse em uma imagem. Sua mão direita controlada pelo lado esquerdo do cérebro foi incapaz de realizar a tarefa, mas a esquerda não teve qualquer dificuldade.

O hemisfério esquerdo é dominante para os processos de linguagem, e o direito é dominante para as tarefas visuais-construtivas.

Através do estudo dos pacientes, Sperry e Gazzaniga, descobriram que os hemisférios eram capazes até mesmo de trabalhar simultaneamente em duas tarefas diferentes.

Com um monitor de tela dividida, os dois médicos projetaram as palavras bata palmas para o cérebro direito de uma paciente e ria para seu cérebro esquerdo. Ela imediatamente riu e bateu palmas. Quando lhe perguntaram sobre isso, porém, ela disse que a única ordem que vira na tela havia sido a de rir. O cérebro direito não foi capaz de verbalizar a ordem que vira bater palmas, mas pode cumpri-la, ao mesmo tempo que o cérebro esquerdo estava obedecendo à ordem de rir.

Esse tipo de resultado levou à especulação de que em cada indivíduo podem existir dois "eus" separados, ou personalidades, cada uma residindo em um dos hemisférios do cérebro. Gazzaniga concluiu que cada hemisfério tem memórias, valores e emoções particulares. De vez em quando, os dois podem não estar de acordo. Por exemplo, quando Gazzaniga perguntou ao hemisfério direito de um jovem paciente de cérebro dividido chamado Paul o que ele gostaria de ser, a resposta foi corredor de automóveis. Mas quando colocou a mesma pergunta ao hemisfério esquerdo de Paul, a resposta foi desenhista. Paul foi também submetido periodicamente em um teste de múltipla escolha no qual pediram para classificar seus interesses em uma escala de um a cinco, que ia de gosto muito a não gosto nada. O teste era administrado separadamente a cada um de seus cérebros. Certo dia, as respostas de cada um dos cérebros foram diametralmente opostas. Qualquer coisa que um dos cérebros gostasse, o outro não gostava. O próprio Paul estava de muito mau humor nesse dia, verbalmente insultante e rixento. Um mês depois, em um dia em que estava com uma disposição calma e agradável, ele fez o teste novamente. Desta vez, seus dois hemisférios deram notas iguais a todos os itens do teste. Gazzaniga concluiu que o cérebro humano está constantemente envolvido nesse tipo de conflito, e que a discórdia entre os dois hemisférios pode ser uma causa muito simples para a ansiedade e a tensão.

As anomalias comportamentais das pessoas submetidas a operações de divisão do cérebro costumam ser bem diferentes das que sofrem as pessoas que tiveram danos causados por ferimentos ou doença em uma área específica do hemisfério esquerdo ou do direito.

Paul Broca e Carl Wernicke há mais de um século, descobriram que um dano direto a um dos centros de fala do hemisfério esquerdo deixará o individuo incapaz de falar, ou incapaz de pronunciar uma fala compreensível. Danos a outras partes do hemisfério esquerdo podem causar distúrbios específicos tais como amnésia de nomes ( incapacidade de lembrar o nome de pessoas conhecidas), ou surdez às palavras, condição em que a pessoa consegue ler, escrever e falar normalmente, mas é incapaz de entender a palavra falada.

Os ferimentos no hemisfério direito do cérebro perturbam mais a percepção visual e a orientação espacial do que as capacidades linguísticas. Muitas pessoas com danos no cérebro direito, por exemplo, têm dificuldades para montar um quebra-cabeças simples ou para seguir direções em um mapa. Também se desorientam com facilidade e podem ficar andando à-toa, perdidos, em lugares conhecidos, inclusive em suas próprias casas.

Pierre Paul Broca. também investigou a região límbica, que hoje se sabe estar ligada à emoção.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

OS TRÊS CÉREBROS HUMANOS





O cérebro humano é uma massa complexa de bilhões de células nervosas, ou neurônios, e um trilhão de células de apoio conhecidas como neuroglia. A maioria delas concentra-se no córtex cerebral, a camada enrugada de matéria cinzento-rosada que cobre o resto do cérebro e que, segundo se acredita, é a sede da consciência e do pensamento intelectual. As células da superfície do córtex cerebral processam a informação recebida do exterior através dos sentidos. Os dados são então transmitidos para o córtex, onde são combinados à informação contida pela memória e por outras partes do cérebro para criar a consciência / sentimentos, pensamentos, imagens e idéias que formam o mundo psicológico interior do individuo.

Os cientistas sabem que a transmissão das informações é realizada pelos neurônios através de impulsos elétricos. Mas a maneira precisa pela qual esses padrões elétricos se tornam os pensamentos e sensações da mente consciente continua sendo um grande e profundo mistério. E tampouco entendem o funcionamento da mente inconsciente, as emoções básicas e de natureza instintiva que parecem ter origem nas profundezas das regiões mais antigas e primitivas do cérebro. Pesquisas cerebrais revelaram que os seres humanos não tem um cérebro, e sim três.

Acredita-se que essas três massas neurais, diferente umas das outras em estrutura e função, tenham se sobreposto uma sobre a outra ao longo de milhões de anos de evolução. A primeira, menos e mais primitiva delas, conhecida como complexo R, ou cérebro reptiliano, foi herdada pelos homens de seus antepassados répteis. Nela estão abrigados os instintos de caça, luta, migração, acasalamento e controle territorial. Em volta do complexo R há uma segunda massa conhecida como sistema límbico, ou antigo cérebro mamífero. Encontrado de forma mais ou menos parecida em todos os outros mamíferos, o sistema límbico humano é uma coleção de estruturas interligadas que ajudam a controlar a emoção, a memória e certos aspectos do movimento.

A terceira massa é o córtex cerebral, chamado às vezes de novo cérebro mamífero, porque vem evoluindo aproximadamente nos últimos milhões de anos e é portanto muito mais recente do que o complexo R ou o sistema límbico. Mais altamente desenvolvido nos seres humanos do que em qualquer outro mamífero, o córtex cerebral é responsável por grande parte dos traços considerados como distintivos dos seres humanos, tais como a capacidade de raciocínio, de pensamento abstrato, de formar símbolos e de criar linguagem e cultura.

O psicólogo britânico Stan Gooch acredita que o ego está localizado no córtex cerebral, a parte mais moderna do cérebro; para ele, o Si-mesmo estaria abrigado em uma determinada região do sistema límbico, que é conhecida como cerebelo. O cerebelo regula e coordena a atividade muscular e, de acordo com Gooch, é também a sede do inconsciente. É dessa área do cérebro, diz ele, que vêm as alucinações hipnagógicas as assustadoras imagens oníricas que experimentamos às vezes no estado entre sono e a vigília e as figuras sinistras tais como vampiros, trogloditas e o diabo.

Gooch acha também que as experiências paranormais surgem do cerebelo. Em seu livros de 1978, O Paranormal, ele descreve uma experiência de " transe mediúnico " que teve aos 26 anos de idade. Gooch acompanhara um amigo a uma sessão espirita em Coventry. Logo depois que a sessão começou, Gooch sentiu que sua cabeça ficava inexplicavelmente leve. "E então, de repente, pareceu-me que um grande vento estava soprando pela sala", escreveu ele.. " Em meus ouvidos havia o rugido ensurdecedor de águas correndo. Quando me senti sendo arrastado, perdi a consciência".Mais tarde, quando voltou a si, ficou sabendo que diversos espíritos haviam falado através dele. Gooch não demorou para entender o que acontecera; sentiu-se, conforme escreveu depois, como se houvesse sido possuído. Foi uma sensação física, acrescentou, como se os espíritos houvesses vestido o corpo dele do mesmo modo que fariam como uma roupa.

Na opinião de Gooch, a origem dessas experiências místicas está no fundo das regiões mais antigas do cérebro. Outros pesquisadores sustentam que a fonte das ocorrências paranormais se encontra muito mais perto da superfície do cérebro, no hemisfério direito do córtex cerebral. As duas metades do córtex cerebral, apesar de serem imagens em espelho uma da outra, cumprem funções bem diferentes.

O hemisfério esquerdo, que controla a metade direita do corpo na maioria das pessoas, é mais adaptado ao raciocínio verbal, ao pensamento lógico e à decifração de símbolos abstratos como números e palavras. O cérebro direito controla a metade esquerda do corpo e adapta-se melhor ao pensamento não verbal, intuitivo. Enquanto o hemisfério esquerdo processa a informação em pequenos passos analíticos, o direito olha para toda uma situação ao mesmo tempo e reage de acordo.

Muitos acreditam, portanto, que o cérebro direito é a fonte tanto da criatividade quanto de uma certa sabedoria cósmica, uma forma de compreensão e de conhecimento mais alta e mais intuitiva.